terça-feira, 29 de setembro de 2009

vendo o sol através destas vidraças

Cai a tarde impoluta sobre as ruas,
o mormaço invadindo-me as narinas:
ausência das tuas vozes assassinas,
os teus gestos, singelas bocas tuas,

fios d'ouro, cabelos singulares.
Esqueço-me perdido nas demoras:
pensamentos e sonhos pelos ares,
lentíssimas saudades pelas horas.

Oh, as ansiedades dilacerantes,
os desejos cruéis, desconcertantes,
e delírios e nuvens e fumaças...

Ao meu redor te sinto tão presente
pois surges como um anjo em minha frente,
vendo o sol através destas vidraças...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Enganei-me, enganei-me - paciência!
acreditei as vozes, cri, Ormia,
que a tua singeleza igualaria
à tua mais que angélica aparência.

Enganei-me, enganei-me - paciência!
ao menos conheci que não devia
pôr nas mãos de uma externa galhardia
o prazer, o sossego e a inocência.

Enganei-me, cruel, com teu semblante,
e nada me admiro de faltares.
que esse teu sexo nunca foi constante.

Mas tu perdeste mais em me enganares:
que tu não acharás um firme amante,
e eu posso de traidoras ter milhares.

Enganei-me, enganei-me - paciência! - Tomás António Gonzaga
Marília de Dirceu

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SEM

...Eu queria uma tarde mais tranquila
sem a lembrança do abandono viva...
... passear entre as ruas de uma vila
sem ter mágoa na feição pensativa...

... Eu queria estar morto numa vala
ou o gosto suave de uma uva
na boca, deitado na minha sala,
um beijo molhado banho de chuva...

... Mas os astros vespertinos sumiram;
com eles a paz, a calma partiram
- tudo cinza - esta saudade sem cor -

... Paisagismos sem beleza sem luz...
... céus sem nuvens, tristezuras azuis...
Eu, aqui nesta tarde sem amor!

domingo, 20 de setembro de 2009

http://www.youtube.com/watch?v=Wo2Lof_5dy4&feature=player_embedded

sábado, 19 de setembro de 2009

Vem, garota!
Deixa eu gostar de ti!
Vem comigo...
vamos fazer amor
na chuva
dentro do mar

Vem, garota!
Deita na grama ao meu lado!
Vem comigo...
vamos fazer amor
dentro do carro
em movimento

... e durmiremos numa nuvem
... e juntos seremos um só!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Para batizar o blog:

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
_ E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento! ...

Sonhar um verso d’alto pensamento,
E puro como um ritmo d’oração!
_ E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

F.E.